domingo, 22 de agosto de 2021

MIDRASH DE AVRAHAM

 

 A longa jornada do povo de Israel se inicia com Avraham, o primeiro patriarca. Primeiro monoteísta da história, Avraham rebelou-se contra a idolatria reinante, foi também o primeiro a proclamar que Eloha é Um e Único e que o mundo tem um único Senhor do Universo. Sem ter tido “ninguém para ensinar-lhe”, Avraham abandonou todos os ensinamentos e tradições de seus pais e a terra onde vivia para seguir a Voz que o levava a Eloha. Segundo o Midrash, ele era chamado de Avraham, ha-Ivri, Avraham, o Ivri, que significava “o que passou para o outro lado”. Pois Avraham enfrentou o mundo sozinho: ele, o monoteísta, de um lado; o resto do mundo, politeísta e idólatra, do outro. Avraham foi o primeiro judeu. Com ele e através dele Eloha selou uma aliança sagrada e perpétua com o povo de Israel, assegurando-lhe que seus descendentes seriam numerosos como as “estrelas do céu “e herdariam a Terra Sagrada. Nosso primeiro patriarca ensinou a Verdade à sua família e a todos ao seu redor, mas, principalmente, a seu filho Isaac, que a transmitiu a Jacó e este, a seus filhos, que deram origem às doze tribos. Assim, a herança de Avraham passou de pai para filho em uma corrente espiritual que atravessa os séculos. O legado de Avraham é sinônimo de fidelidade, lealdade, bondade, fé e coragem, pois sua fé em um Único Criador, Justo e Bom, exigia do homem integridade absoluta – em relação a Eloha e aos outros homens. Seus atos moldaram e inspiram a Nação Judaica, que se refere a ele como Avraham Avinu, nosso pai, Avraham.

A vida do primeiro patriarca é narrada no primeiro livro da Torá, Bereshit (Gênese). O texto e os estudos adicionais no Talmud, no Midrash e nos livros da Cabala revelam ainda mais sobre a vida de Avraham, as lutas, as vitórias e os desafios que teve que enfrentar ao longo do caminho que o levou a Eloha. Os eventos da vida do patriarca prenunciam a história do Povo de Israel, pois, como ensinam os nossos sábios: “Os atos e episódios ocorridos durante a vida dos patriarcas são um sinal para os seus descendentes”.

O que sabemos sobre Avraham, o nosso patriarca? Quais as virtudes que possuía para ter sido escolhido por Eloha como o fundador da Nação Judaica?

Avraham: um homem em busca da verdade

O Avraham revelado pela Torá não é retratado como um sábio imerso em contemplações metafísicas ou um visionário. Era um homem à procura da Verdade, dotado de uma mente independente, um coração generoso, uma alma fervorosa e uma coragem indomável. Apesar de ter adquirido, ainda jovem, uma consciência intuitiva sobre a existência de um Único Criador – de acordo com o Midrash, a partir dos três anos de idade – sua primeira experiência profética só ocorreu aos 75. Somente após anos de persistente busca pela Realidade Absoluta, Eloha se revelou a ele pela primeira vez, e o instruiu.

Nossa tradição lhe confere inúmeros talentos e virtudes: sabedoria de um justo, bondade lendária, poderes e riquezas de um rei e força e coragem de um grande guerreiro. Sua figura imponente, porte real e clareza de ideias impressionavam a todos a seu redor, assim como sua eloquência em espalhar a Verdade.

Segundo os livros, Avraham era conhecido em seu meio como um sábio místico que acreditava na existência de uma Única Divindade – um Eloha misterioso do qual recebia instruções. Seus contemporâneos diziam que anjos sussurravam em seu ouvido e que ele usava tanto seus poderes místicos quanto sua sabedoria prática para ajudar os outros.

Profundo conhecedor de segredos místicos, estudara na Academia de Shem e Eiver, em Jerusalém, na época denominada Shalem. Foi lá que aprendeu a tradição sobre a Criação do mundo que Noé aprendera de seu pai – e transmitira a seus filhos, em especial a Shem.

Primeiro a compreender os segredos da Criação do mundo, Avraham registrou seus ensinamentos e observações no primeiro texto místico da humanidade – o “Livro da Criação”, Sefer Yetsirá. A obra é, até hoje, considerada a mais importante fonte sobre os segredos da Criação do Universo. Nela está revelado que Eloha criou o mundo por meio das 22 letras do alfabeto hebraico e de 10 emanações divinas chamadas de sefirot.

Avraham, o primeiro monoteísta

O nome original do primeiro patriarca era Abrão (Avram), até Eloha mudá-lo para Avraham (Avraham), que quer dizer “pai de muitas nações”. De fato, somos proibidos de chamá-lo de Abrão, seu nome de nascimento.

Avraham nasceu por volta do final do segundo milênio antes da era comum (a.E.C.) na cidade de Ur Casdin, na Mesopotâmia, região localizada no Crescente Fértil, berço da civilização ocidental. Na época em que Avraham nasceu, o politeísmo – a crença em várias divindades – reinava supremo no mundo. Segundo a Torá, seu pai, Terach, apesar de descender de Noé e de Shem, servia a “deuses estranhos”. Considerado o principal idólatra da região, mantinha uma loja onde vendia estátuas e representações de divindades. Mas o filho de Terach não sucumbiu às práticas de seu pai.

Segundo as nossas tradições, Avraham descobriu a existência de um Único Eloha observando o sol e a lua, que se alternam no céu, e a natureza a sua volta. Sua intuição aliada a sua mente sagaz, fizeram-no concluir que devia haver um Ser Supremo que governava todo o universo e estabelecera e geria as leis da Natureza. Só um Ser Supremo e Perfeito poderia ter criado algo tão perfeito. Sua percepção estava de acordo com os ensinamentos que havia adquirido na Academia de Shem, em Jerusalém.

Avraham passou a tentar convencer seu pai Terach e a população de sua região sobre a falsidade do politeísmo. Mas suas atitudes, seus questionamentos e sua eloquência em transmitir a Verdade que descobrira, de que há um Único Eloha, Senhor do Universo, chocavam-se com todos ao seu redor. O rei de Ur, Nimrod, sentiu-se particularmente ameaçado e insultado, pois ele mesmo queria ser considerado um deus. Furioso com as atitudes de Avraham, o rei condenou-o a uma fornalha ardente. “Se seu Eloha realmente existe, Ele que o salve”, declarou o rei Nimrod a Avraham.

Avraham foi salvo por Eloha e emergiu do fogo da fornalha sem a menor queimadura. Foi um dos dez testes aos quais Avraham foi submetido durante sua vida. Um teste de fé no Todo-Poderoso, do qual Avraham emergiu triunfante como em todos os demais que enfrentou.

“Lech Lechá”

Somente aos 75 anos, após décadas de absoluta e total devoção, o Eterno Se revelou a Avraham pela primeira vez, apresentando-Se com o chamado Divino “Lech Lechá” – “Sai da tua terra, da tua pátria e da casa do teu pai para a terra que Eu te mostrarei” (Gênese 12). As palavras Lech Lechá literalmente significam “Vai por ti mesmo”.

No momento em que Eloha se revelou pela primeira vez, Avraham já havia realizado feitos sem precedentes. Descobrira a verdade do Eloha Único, desafiara o rei mais poderoso da época e também sacerdotes, sobrevivera à fornalha ardente e convertera milhares à fé monoteísta. Tudo isso conseguiu por si mesmo. Não tinha um mestre nem uma tradição para guiá-lo, nem uma voz celestial para dirigi-lo. Nada além de seu intelecto e de sua incansável busca pela Verdade Absoluta.

Mesmo assim, quando finalmente obteve a revelação Divina, ele recebeu a ordem de “Vai por ti mesmo: deixa de lado teus talentos (“tua terra”), tua personalidade enraizada em teu meio ambiente (“teu local de nascimento”) e tua sabedoria fenomenal (“da casa de teu pai), e segue Eloha até “a terra que Eu te mostrarei”. Eloha ordena a Avraham abandonar todas as influências externas para segui-Lo. A partir do momento em que Eloha revelou a Avraham Seu caráter único, Avraham passa a cumprir Suas instruções e a seguir Suas ordens, que o levariam mais próximo de Eloha e de Sua Verdade.

E então prometeu o Todo-Poderoso: “E farei de ti uma grande nação. Eu te abençoarei e engrandecerei teu nome. Tu serás uma bênção. Eu abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gênese 12:1).

As promessas Divinas

Após obedecer a Ordem Divina, Avraham seguiu em direção a Canaã com sua esposa sarai, seu sobrinho Lot e todos aqueles a quem tinha convertido à nova fé. Uma vez em Canaã, Eloha lhe revelou Sua Vontade e fez uma série de promessas a Avraham, selando com ele pactos que iriam ligar para sempre o povo de Israel a Eloha. Promete a Avraham que seus descendentes herdarão a terra. “Eu darei esta terra a teus descendentes” (Gênese 12:1), repete Eloha em várias ocasiões.

Mas Avraham não tinha filhos e, sendo um grande astrólogo, sabia que só a Vontade Divina poderia fazer com que tanto seu destino e como o de Sarai, sua esposa, fossem revertidos para que, assim, pudessem conceber um filho. Se não tivesse um filho, a quem poderia transmitir sua herança espiritual? – perguntou Avraham ao Eterno. Quem iria propagar a fé entre todos os povos? Eloha assegurou-lhe que iria ter filhos e prometeu multiplicar a descendência de Avraham, dizendo que seria tão numerosa quanto “as estrelas do céu”.

Mas Avraham, temeroso pelo futuro de seus descendentes, pediu uma prova tangível de que a Terra Sagrada lhes pertenceria. Eloha então lhe mostrou o futuro de seus descendentes – as provações que teriam que enfrentar, os sucessivos impérios que se levanta-riam contra eles. Ressaltou, no entanto, que Israel sobreviveria a todos os perigos e os venceria. Foi esta a promessa do Eterno. Como a promessa de Eloha é irrevogável, a Terra Sagrada caberá, em última instância, a Israel, mesmo se este – por não cumprir a Vontade Divina – a perder por algum tempo.

A promessa do Todo-Poderoso de que Avraham seria uma bênção e geraria bênçãos implicava também que receberia Sua proteção. Portanto, o Eterno é o Escudo de Avraham, Magen Avraham, e, como seus descendentes, pedimos a Eloha, todos os dias, em nossas orações, que também seja nosso Escudo.

A Aliança Eterna entre Eloha e o povo de Israel

Quando Avraham tinha 99 anos, Eloha Se revelou novamente para selar com o patriarca, através do brit milá, Sua Aliança Eterna com o povo de Israel. Diz o Eterno a Avraham: “Eu sou Eloha, Todo-Poderoso, anda diante de Minha presença e sê perfeito” (Gênese 17). “Até agora não foste perfeito diante de Mim”, disse Eloha a Avraham, mas” circuncida-te, então andarás diante de Mim (à vista dos homens) e serás perfeito “. E o Eterno ordenou: “E vós sereis circuncidados na carne de vosso prepúcio. E será o símbolo de uma aliança entre Mim e vós...” (Gênese, 17:11). “E vós mantereis Minha aliança, vós e todos os vossos descendentes, por todas as gerações” (Gênese, 17:9-12).

Tão forte é a ligação que existe entre Avraham e a circuncisão que, ao ser realizada, incluímos na berachá pronunciada no ato a frase “Abençoado és Tu, Senhor, nosso Eloha, Rei do Universo, que nos santificaste com os Seus Mandamentos e nos ordenaste introduzi-lo na Aliança de Avraham, nosso patriarca”.

Até então o nome de nosso patriarca era Abrão (Avram), que significa av Aram – “pai de Aram”, sua terra natal, mas a partir desse momento Eloha lhe dá um novo nome, Avraham – (Avraham), contração de duas palavras – av hamon, que significa “pai de uma multidão”. A mudança de nome indica seu novo status, “perfeito” perante Eloha e pai de uma multidão de nações que seriam fundadas por ele. Tão significativa foi esta mudança que somos determinantemente proibidos de chamá-lo pelo seu nome anterior. Eloha também mudou o nome de sua esposa, nossa primeira matriarca. Sarai, que significava “minha princesa”, foi mudado para Sarah – “princesa para todas as nações do mundo”.
Foi nessa ocasião em que mudaram seus nomes, que Eloha revelou-lhes o futuro nascimento do filho tão desejado – Isaac, nosso segundo patriarca.

Principais características: fé e amor

Avraham, ensina o Talmud, era bom com os Céus e com os homens. Nos textos místicos, é a personificação do atributo de chesed – bondade – a emanação divina (sefirá) da benevolência, generosidade e amor infinito. As duas características principais da personalidade do patriarca eram guemilut chassadim e emuná: atos de bondade e fé em Eloha.

Avraham servia a Eloha principalmente através do amor que se manifestava tanto em sua devoção a Ele como através de um contínuo e incessante amor por seus semelhantes. Exemplo supremo do homem bondoso e justo, Avraham estava sempre preocupado com o bem-estar dos outros, respeitando e amando todos os seres, cercando-os de atos de bondade e generosidade. Avraham mantinha o seu lar sempre aberto a todos, sem perguntar quem eram ou por que o visitavam. Oferecia a todos – anjos ou mendigos – abrigo e alimento. Em troca, só pedia que seus hóspedes agradecessem a Eloha, o verdadeiro Provedor de tudo no mundo. A Torá afirma que Eloha escolheu Avraham porque ele seria capaz de ensinar seus filhos a praticar a caridade e a justiça (Gênese 18:19).

Avraham também possuía um senso imenso de responsabilidade com as pessoas ao seu redor. Apesar de todas as dificuldades e obstáculos que enfrentou durante sua vida nunca questionou o Criador; sua fé em Eloha era absoluta. Mas, mesmo assim, não hesitou em contestar e até enfrentar o Eterno para salvar alguém do sofrimento e da morte. Relata a Torá que ao ser informado por Eloha de que a destruição de Sodoma e Gomorra era iminente, Avraham implorou pela vida de seus habitantes, apesar de saber que eram malvados e cruéis. O Talmud, então, afirma que “qualquer um que tenha compaixão pelas pessoas, certamente descende de Avraham, nosso patriarca”.

E o Eterno testou Avraham

O amor e a fé de Avraham em Eloha permaneceram inalterados e inabaláveis durante toda a vida de nosso patriarca, apesar dos testes e obstáculos que teve que enfrentar. Para testar a sua devoção, Eloha submeteu Avraham a dez testes. Entre estes, o patriarca enfrentou o fogo, a fome e reis idólatras, lutou contra poderosos exércitos e foi obrigado a abandonar o seu lar e a sua terra. No seu último e mais difícil desafio, o único que a Torá relata, Avraham prova estar disposto até a sacrificar o seu tão amado filho, Isaac, para obedecer a ordem Divina. Nenhum relato da Torá foi – e ainda é – mais analisado e comentado por sábios e filósofos do que o sacrifício de Isaac.

A Torá nos diz: “Após esses eventos, Eloha testou Avraham” (Gênese 22:1). O Eterno ordenou ao patriarca que tomasse o seu filho Isaac, dizendo: “Vai para a área de Moriá. Traze-o como um holocausto...” (Gênese 22:2).

A Torá relata os acontecimentos: a viagem do pai com o filho, os preparativos e o fatídico instante quando Avraham estende a mão e toma a faca para cortar a garganta de seu filho único e um anjo de Eloha o chama: “Avraham! Avraham!” “Eis-me aqui”, responde o patriarca.

E então o anjo de Eloha lhe revela que tudo fora um teste, o último e mais difícil de sua vida: “Não faças mal ao menino. Pois agora sei que temes a Eloha. Tu não Lhe recusaste teu único filho” (Gênese 22: 11-12). O anjo de Eloha transmite ao patriarca a promessa Divina: “Eu jurei por Minha própria Essência que, por teres realizado tal ato e não me teres recusado teu único filho, Eu te abençoarei bastante e aumentarei tua semente como as estrelas do céu. Todas as nações do mundo serão abençoadas através dos teus descendentes – tudo porque tu obedeceste a Minha voz” (Gênese 22:15-18).

Todos as manhãs, lemos está porção da Torá em um relato que precede as nossas orações, quando pedimos que sejam realizadas as bênçãos prometidas pelo Eterno a Avraham. É importante lembrar que em Moriá – no exato lugar onde Avraham preparou seu filho para o sacrificar – foi construído o Beit Hamikdash, o Grande Templo de Jerusalém. O Templo era o núcleo da Presença Divina na Terra e o local de onde todas as rezas subiam aos Céus. Foi uma das recompensas de Eloha pela devoção de Avraham.

De fato, não poderia haver provação mais difícil para Avraham do que o sacrifício de Isaac. Avraham havia ensinado ao mundo que a vida é uma sagrada dádiva divina e que Eloha odeia os sacrifícios humanos. O assassinato, mesmo a mando do Divino, representava a antítese da bondade de Avraham. E mais ainda, Eloha havia prometido a Avraham que sua recompensa seria grande: seu filho Isaac seria pai de uma grande nação que disseminaria e perpetuaria seus ensinamentos.

O sacrifício de Isaac representava o oposto de tudo aquilo que Avraham ensinou, praticou e sonhou em sua vida. Apesar disso, o homem que desafiou Eloha para salvar os povos malévolos de Sodoma e Gomorra, calou-se e preparou-se para cumprir a mais difícil ordem Divina. Por tudo isto, a Torá nos relata que o Todo-Poderoso encontrou em Avraham lealdade e devoção absolutas: “Tu és o Eterno, o Eloha que escolheu Avraham, e Tu encontraste seu coração fiel” (Neemias 9:7).

Com Avraham e através dele se iniciou a história do povo judeu, uma nação eterna que influenciou toda a humanidade. Em nossas orações diárias, chamamos o Criador de “Eloha de Avraham, Eloha de Isaac e Eloha de Jacó”. Pedimos proteção, bondade e misericórdia Divina pelo mérito dos nossos patriarcas. Pois antes de Avraham, ensinam os nossos sábios, “Eloha reinava nos Céus. Foi Avraham quem O trouxe para a Terra.”


Bibliografia:
Rabbi Elie Munk, Sefer Bereishis. The Call of the Torah, an anthology of interpretation and commentary of the Five Books of Moses. Mesorah Publications.

Rabino Aryeh Kaplan. A Torá Viva. Ed. Maayanot

Irving M. Bunim. A Ética do Sinai, ensinamentos dos sábios do Talmud. Editora Sefer

Rabbi Avigdor Miller. Behold a People, a didactic history of scriptural times. Balshon Printing and Offsets Co.

Paul Johnson. A História dos Judeus. Ed. Imago

 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Como as Pessoas Eram Salvas Antes da Morte de Yeshua?

 

Desde a queda do homem, a base da salvação sempre foi a morte do Mashiach. Ninguém, mesmo antes da estaca de execução ou desde a estaca, ninguém poderia ser salvo sem este acontecimento indispensável na história do mundo. A morte do Mashiach pagou a pena por pecados do passado, cometidos pelos “santos” do Tanak (Bíblia hebraica)  e também de pecados futuros, dos “santos” do Novo Testamento.

A condição para a salvação sempre foi a confiança. O alvo da confiança de alguém para a salvação sempre foi Elohim. Escreveu o salmista: “Felizes todos aqueles que nele confiam” (Salmos 2:12). Gênesis 15:6 nos diz que Avraham (Abraão) creu em Elohim e que isto foi suficiente para Elohim imputar-lhe isto por justiça (veja também Carta aos crentes em Roma 4:3-8). O sistema sacrificial descrito no Tanak (Bíblia Hebraica), não tirava o pecado, como claramente ensina Hebreus 9:1-10; 10:4, mas apontava para o dia em que o Filho de Elohim verteria Seu sangue pela pecaminosa raça humana.

O que mudou através das gerações foi o conteúdo da confiança do crente. A exigência de Elohim sobre o alvo da confiança se baseia na quantidade de revelação que Ele deu, até determinado momento, à humanidade. A isto se chama revelação progressiva. Adam (Adão) cria na promessa dada por Elohim em Gênesis 3:15, que a Semente da mulher destronaria Satanás. Adam Nele creu, demonstrado pelo nome que deu a Eva (v.20) e o Eterno indicou Sua aceitação imediatamente, cobrindo-os com túnicas de peles (v.21). Naquele momento, era tudo que Adam sabia, mas nisto ele creu.

Avraham creu em Elohim de acordo com as promessas e novas revelações a ele dadas por Elohim em Gênesis 12 e 15. Antes de Moshê (Moisés), nenhuma Escritura existia, mas a humanidade foi responsável pelo que Elohim tinha revelado. Através do Tanak (Bíblia hebraica), os crentes eram salvos porque criam que Elohim iria, um dia, tomar conta deste problema, o pecado. Hoje, olhando para trás, cremos que Ele já tomou conta de nossos pecados no Calvário (Yochanan/João 3:16; Hebreus 9:28).

E quanto aos crentes nos dias do Mashiach, antes da estaca e ressurreição, criam em quê? Será que entendiam por completo a morte de Yeshua na estaca de execução por seus pecados? Mais tarde em seu ministério, “... começou Yeshua a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia” (Mattiyahu/Mateus 16:21). Qual foi a reação de Seus discípulos a esta mensagem? “E Kefa (Pedro), tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso.” (Mattiyahu/Mateus 16:22). Kefa e os outros discípulos não sabiam toda a verdade, mas mesmo assim foram salvos, pois creram que Elohim tomaria conta do problema de seus pecados. Não sabiam exatamente como Ele conseguiria isto, não mais que Adam, Avraham, Moshê ou Davi, mas creram em Elohim.

Hoje, temos mais revelações do que tinham as pessoas que viveram antes da ressurreição do Mashiach, pois nós sabemos por completo. “Havendo Elohim antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1:1-2). Nossa salvação ainda é baseada na morte do Mashiach, nossa confiança ainda é condição para salvação, e o alvo de nossa confiança ainda é Elohim. Hoje, para nós, o conteúdo de nossa confiança é que o Mashiach morreu por nossos pecados, que Ele foi sepultado, e que Ele se levantou no terceiro dia (I Coríntios 15:3-4).

A obra do Mashiach na terra, e especialmente sua crucificação e ressurreição, é o clímax da história; é o grande centro no qual Elohim consuma a salvação para a qual toda a história do Tanak (Bíblia hebraica) se direciona, cumprindo as promessas feitas. A era presente olha para a obra completada do Mashiach, mas também para a consumação de sua obra quando vier o tempo dos “novos céus e nova terra em que habita a justiça” (2 Pe. 3:13; Ap. 21:1–22:5).

O Mashiach Descrito No Tanak (Bíblia Hebraica)

Como o plano de Elohim é para Sua glória, focalizando-se no Mashiach (Ungido) (Ef. 1:10), é natural que as promessas do Tanak apontassem para o Mashiach, “Pois todas as promessas de Elohim têm nele o sim” (2 Cor. 1:20). Quando o Mashiach apareceu aos discípulos depois de sua ressurreição, ele os fez perceber que ele mesmo (Mashiach) estava nas Escrituras: E ele lhes disse:

Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Mashiach/Ungido padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moshê, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Tora de Moshê, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Mashiach padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. (Lc 24:25–27, 44-47).

Quando a Bíblia diz que “abriu seus olhos para entender as Escrituras” (Lc 24:45), não quer dizer simplesmente que o Mashiach mostrou a eles umas poucas predições acerca de si mesmo como Salvador. Significa que o Mashiach é o centro do Tanak (Bíblia hebraica) inteiro, abrangendo todas as três partes do Tanak como os judeus o conheciam: A Tora de Moshê, incluindo B'reshit/Gênesis a D'varim/Deuteronômio; Os Profetas. Os Salmos representavam para os judeus a terceira porção de livros chamada de Escritos. O coração de todos esses escritos é que eles apontavam para o sofrimento de Yeshua, sua ressurreição e a conseqüente pregação do evangelho a todas as nações (Lc 24:47). O Tanak como um todo, através de suas promessas, símbolos de salvação, aponta para o cumprimento da Redenção que teve lugar uma vez por todas no Mashiach. 

Os Pactos

As promessas de Elohim no Tanak (Bíblia hebraica) estão não apenas no contexto dos compromissos de Deus para com seu povo, mas também nas obrigações que o povo tem para com Elohim. Noach/Noé, Avraham/Abraão e outros a quem Elohim encontra e se dirige são chamados não somente a crer em Elohim, mas a responder com suas vidas ao chamado de Elohim. A relação de Elohim com seu povo é consumada por meio de pactos. Quando Elohim faz um pacto com o homem, ele é apresentado como o Soberano que especifica as obrigações do pacto para ambas as partes. ― Eu serei seu Elohim. É a obrigação fundamental do lado de Elohim, enquanto que “eles serão meu povo” é a obrigação fundamental para o lado humano.

Por exemplo, quando Elohim chama Avraham/Abrão, ele diz, “Sai a tua terra e da tua parentela para a terra que te mostrarei” (Gen. 12:1). Esse mandamento especifica uma obrigação da parte de Avram/Abrão. Mas Elohim diz o que fará de sua parte: “E eu farei de ti uma grande nação, e te abençoarei” (Gen. 12:2). As declarações de Elohim tomam a forma de promessas, de bênçãos e advertências. As promessas e bênçãos apontam para Cristo, que é o cumprimento das promessas e fonte última das bênçãos de Elohim. As advertências (maldições) apontam para o Mashiach no seu papel de nosso substituto e executor de julgamento contra o pecado, especialmente em sua segunda vinda.

O Mashiach também tem as obrigações do lado humano dos pactos. O Mashiach é plenamente homem e capaz de salvar através da sua vida todos aqueles que depositam nele sua confiança. Como homem, ele está com seu povo do lado humano. Ele cumpre as obrigações dos pactos por sua perfeita obediência (Heb. 5:8). Ele recebeu a recompensa da sua obediência em sua ressurreição e ascensão (Fp. 2:9–10). Os pactos do Tanak (Bíblia hebraica) no lado humano apontam para sua consumação no Mashiach.

Ao tratar com a ira de Elohim contra o pecado, o Mashiach mudou a situação do homem de alienação para paz. Ele nos reconciliou com Elohim (2 Cor. 5:18–21; Rom. 5:6–11). Ele nos trouxe o privilégio do relacionamento pessoal com Elohim, o fato de sermos chamados filhos de Elohim (Rom. 8:14–17). A intimidade com Elohim é o que todo o Tanak (Bíblia hebraica) antecipa. Em Isaías, Elohim declara que seu Servo, o Messias, será o pacto para o seu povo (Isaías 42:6; 49:8).