domingo, 14 de novembro de 2021

Hesed (Misericórdia) entenda o que a religião não fala sobre o que é graça!

 



Um termo hebraico a serviço de todos

Convém contextualizar o termo hesed à família de palavras em hebraico que remete a três raízes: hânan, râham e hâsad. Conjuntamente aparecem 369 vezes, isto sem considerar os textos que não correspondem ao original hebraico. Os significados destes três termos no Tanak (AT) convergem para a tradução como “misericórdia”, mas devido a riqueza e complexidade semântica aparecem, dependendo do contexto e tradução como “bondade”, “benignidade”, “solidariedade”, “graça”, “lealdade”, “agir lentamente”, “amor constante”, “ter misericórdia de”, “ser gracioso”, “misericordioso”, “favor”, “sentimento fraternal e maternal”, “terna misericórdia”, “devoção” e “generosidade”. Quanto à procura da etimologia do termo hesed, chega-se ao conceito de snaith que no AT tem o significado de “intensidade” e “agudeza”. Focalizando mais o conceito hesed pode-se afirmar que sua riqueza se encontra testemunhada nas Sagradas Escrituras, pois, como Povo de Yawheh os hebreus experimentaram e viveram da piedade e misericórdia do Senhor, isto desde os primórdios de sua formação (cf. Ex 34,6). Em sua revelação, o Yawheh de Israel sempre tratou com compaixão o Povo eleito, preferindo a misericórdia do que a ira merecida (cf. Os 11,8s). Frente os pecados do povo, Yawheh não se cansa em revelar livremente a sua imensa misericórdia. Por isso pode-se afirmar que a rica e longa história do Povo de Yawheh se entrelaça à revelação e experiência com a misericórdia divina harmonizada à sua justiça, embora a ultrapasse muitas vezes em prol do Povo; desta forma a misericórdia fez história de salvação pessoal e comunitária com reflexos sociais. Por iniciativa divina, o Yawheh misericordioso fez continuamente Aliança com o Povo por Ele próprio formado e eleito, não obstante ter muitas infidelidades. Também como prova da compaixão divina, quando pecavam, por diversas vezes houve um envio profético, para serem exortados a recorrer à misericórdia divina (cf. Is 1,18; 51,4-16); a fim de renovarem a Aliança com Yawheh (cf. Ne 9); buscarem ao Yawheh Esposo
compassivo e paciente para com a falta de amor da Amada (Povo) (cf. Jr 31,20). A experiência histórica do Êxodo também frutificou em obras e palavras divinas, devido a misericórdia (hesed) de Yawheh, o qual ouve com compaixão o clamor do povo sofredor e assim decide libertá-los do Egito, mesmo sabendo que poderá ser traído (cf. Ex 3,7; 34). Uma misericórdia paterna que considera e trata Israel como filho primogênito (cf. Ex 4,22), a ponto de triunfar sobre a justiça, sem contradizê-la, seja frente às misérias de membros desconhecidos, ou de um rei David, que peca e se arrepende profundamente (cf. Sam 11; 12;24,10); o descendente Salomão recorre sabiamente à misericórdia pela oração (1Sm 8,22-53) e tantos patriarcas, rei, profetas e outros membros do Povo de Yawheh ou demais povos. O primado e a superioridade do amor em relação a justiça – ponto característico da Revelação – manifestam-se precisamente através da misericórdia”. Na esteira da Revelação veterotestamentária a misericórdia Encarnada – Yeshua Hamashiach, não veio trazer tantos conceitos novos: “A verdadeira novidade da Brit Hadashah não reside em novas ideias, mas na própria figura do Mashiach, que dá carne e sangue aos conceitos – um incrível realismo [inclusive hesed”. Quando hesed e os outros termos foram traduzidos para a brit hadasha eles ganham em sua riqueza polissêmica outras variantes a saber:
“Haurindo seu vocabulário na Bíblia, ele faz grande uso dos termos derivados das raízes eleein (“ter piedade”), oikteirein (“ter compaixão”), kharis (“graça”) e splankhna (“entranhas”, mas sobretudo “compaixão”) – aqueles mesmos que a tradução grega utilizava para verter as três raízes hebraicas evocadas acima”. No Evangelho escrito por Lucas encontra-se no seu princípio, a manifestação da Boa Nova misericordiosa pelos lábios do castigado Zacarias e de Miryam mãe de Yeshua, porque tudo ocorreria devido à expansão da misericórdia, fidelidade do coração de Yawheh misericordioso para com o povo e em memória aos antepassados (cf. Lc 1,50.80). Com maior profundidade e simplicidade o Mashiach revela plenamente a essência misericordiosa de Yawheh, por meio de atos, palavras e sinais.
Dentre tantas Parábolas, a do Filho pródigo, ou do Pai misericordioso permite uma analogia que remete às Alianças rompidas por parte de Israel, mas também demonstra o Evangelho da misericórdia com abrangência pessoal, comunitária e universal, pois quem não se pode colocar Aqueles braços que acolhe e restaura?8. O termo misericórdia é plural e comunica que a Aliança com Yawheh se dá por laços de generosidade e por isso serve de grande auxílio para o convívio e a nova evangelização. A misericórdia aponta para a graça batismal (cf. Tt 3,5); está presente na bem aventurança (cf. Mt 5,7); faz parte daquela ordem divina capaz de assemelhar os filhos ao Pai das misericórdias (cf. Lc 6, 36); ajuda no aprendizado constante que supera os sacrifícios antigos e não pode faltar aos novos (cf. Mt 9,13); aponta para a necessidade de perdoar e se preparar para a misericórdia final (cf. Mt 6,12; Tg 2,12-13) e diz de uma virtude indispensável e urgente aos relacionamentos (cf. Ef 4,32; 1Pd 3,8). nos diz que, como pecadores devemos nossa vida nova unicamente à misericórdia perdoadora e renovadora de Yawheh, misericórdia está com a qual só podemos ser presenteados e que só podemos receber por emunah, mas que nunca – de qualquer forma que seja – podemos fazer por merecer.